De leste a oeste, de oceano a oceano
Bolívia
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Corredor Bioceânico, rodovia que cruzará a Bolívia do ocidente ao oriente e se conectará com portos no Pacífico e no Atlântico, tem dois trechos inaugurados
texto: Marcus Neves
fotos: Roberto Rosa
Às 9h30min do dia 15 de janeiro fazia 420ºC à sombra na rotunda de Arroyo Concepción, distrito do município de Puerto Quijarro, na Bolívia, bem próximo da fronteira com o Brasil, em Corumbá (MS). Ali fora instalado o palanque do qual os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Bolívia, Evo Morales Ayma, discursaram para cerca de 2 mil pessoas – entre autoridades dos dois governos, convidados especiais, jornalistas e moradores das comunidades vizinhas – que presenciavam a cerimônia de inauguração dos trechos 4 e 5 do Corredor Bioceânico, rodovia que cruzará o país do ocidente ao oriente e se conectará com portos nos oceanos Pacífico (no Chile) e Atlântico (no Brasil).
Os presidentes Lula e Morales destacaram em seus discursos a crescente integração de Brasil e Bolívia, e a importância da rodovia para o desenvolvimento boliviano: a nova estrada trará, além da redução dos custos de transporte de cargas, significativos ganhos de competitividade para os exportadores bolivianos, que passam a contar com um caminho até o Pacífico e com uma via livre até o Atlântico.
Ao fim dos pronunciamentos, seguiu-se um ritual tradicional boliviano, denominado challa, quando os dois presidentes arremessaram ao chão uma tinara cerámica (moringa de barro) contendo chicha, bebida fermentada obtida da mandioca, para pedir bons fluidos para a rodovia. Depois, descerraram a fita solene, dando por inaugurada a obra.
A cerimônia e o gesto final do dois presidentes representaram a concretização de um desejo antigo da população da Província de Germán Busch, no Departamento de Santa Cruz, na região oriental da Bolívia. A rodovia é o elo entre a capital do departamento (Santa Cruz de la Sierra) e a fronteira com o Brasil. Dois trechos foram inaugurados, o 4 e o 5, este último construído pelo consórcio formado pela Odebrecht e a empresa boliviana Iasa.
O trecho 4, com uma extensão de 139,2 km, liga os municípios de Roboré e El Carmen; e o trecho 5, com 102 km, os municípios de El Carmen e Arroyo Concepción, na fronteira com o Brasil. A obra foi contratada pela Administradora Boliviana de Carreteras – ABC, com financiamento integral da Corporação Andina de Fomento – CAF.
“Estradas são instrumentos para promoção do desenvolvimento econômico e possibilitam o progresso social e a qualidade de vida ao permitirem às populações de seu entorno o acesso a serviços de saúde e educação”, salienta Patrícia Ballivian, Presidente da ABC.
Um sonho realizado
Willamz Colombo Beltrán é administrador da Empresa de Transporte Puerto Suárez. Com uma frota de 28 caminhões, esta transportadora é responsável pela movimentação de cargas importadas desde a Zona Franca de Puerto Aguirre, em Puerto Quijarro, até destinos diversos em território boliviano. Também transporta produtos locais a serem exportados para o Brasil, das fontes produtoras até a fronteira. Segundo Colombo, a rodovia é um sonho realizado. “Há 10 anos, quando nossa empresa começou a operar, uma simples viagem da fronteira até El Carmen, que hoje pode ser feita em 50 minutos, podia levar até 15 dias, se fosse na estação das chuvas.” Para ele, as trocas comerciais entre os dois países devem ganhar muito mais dinamismo. “Isso significa geração de oportunidades de trabalho e renda e, portanto, aquecimento da economia.”
Romualdo Hurtado, Prefeito de Puerto Suárez, município às margens do Corredor Bioceânico e capital da Província de Germán Busch, também acredita que a rodovia estimulará o crescimento regional. “Uma estrada como esta é um elemento que induz ao progresso e traz bem-estar e mais qualidade de vida para todos”, afirma. Puerto Suárez tem como atividades principais o comércio, a agropecuária, a agricultura e a mineração.
A expectativa de que a estrada seja um vetor de desenvolvimento regional é compartilhada por Beatriz Conde Bello, médica pediatra cubana que trabalha no Centro de Diagnóstico Integral Municipal San Juan de Dios, em Puerto Suárez. Ela integra a equipe médica que, há 10 meses, participa de um programa de cooperação de saúde que resulta de um acordo entre o Governo boliviano e o de Cuba, pelo qual profissionais de saúde cubanos atendem a população de baixa renda na Bolívia. “A existência de uma rodovia como o Corredor Bioceânico é o ponto de partida ideal para o desenvolvimento de serviços de saúde com qualidade, pois possibilita o transporte de pacientes em situações de emergência.”
Dinamização da economia
Desde o início das obras, o trecho 5 do Corredor Bioceânico representou a abertura de novas perspectivas para as comunidades situadas em seu trajeto. Primeiramente pela utilização de trabalhadores locais, o que significou a redução do desemprego e a melhoria da renda da população.
Entre esses trabalhadores, destacam-se 13 universitários recém-formados, selecionados em 2007. “Eles fizeram parte de um programa de formação e qualificação de novos integrantes, que prioriza a educação pelo trabalho, com base nos princípios da Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO)”, relata Júlio Lopes Ramos, Diretor de Contrato da Odebrecht e Superintendente do consórcio construtor. Com a conclusão da rodovia, os jovens parceiros ali formados passaram a atuar em outros contratos da Odebrecht na América do Sul e também na Líbia.
Além disso, a chegada das frentes de trabalho proporcionou a dinamização da economia, com a aquisição, pelo consórcio construtor, de produtos para a alimentação dos trabalhadores.
“Mesmo agora, com a conclusão das obras, persiste um visível fluxo econômico, pela demanda de outros serviços para atender ao trânsito diário de veículos e pessoas. Isso traduz uma tendência de aumento da renda da população”, afirma Júlio Lopes. “Observamos também o surgimento de novos centros de desenvolvimento na Província de Germán Busch. A rodovia trouxe desenvolvimento para a região, o que nos deixa com a sensação de dever cumprido.” Marcelo Odebrecht, Diretor-Presidente da Odebrecht S.A., que esteve presente à inauguração da rodovia, em Arroyo Concepción, reforça: “A importância da atuação da Odebrecht se traduz na sua contribuição para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e o desenvolvimento da região”.
As obras do trecho 5 do Corredor Bioceânico foram iniciadas em janeiro de 2006 e, para sua execução, o consórcio Odebrecht-Iasa trabalhou em regime de dois turnos durante 30 meses, dando oportunidade de trabalho para 1.200 pessoas, 95% das quais do Departamento de Santa Cruz.
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